Polícia investiga suspeita de violência obstétrica envolvendo natimorto em hospital de SC

Polícia investiga suspeita de violência obstétrica envolvendo natimorto em hospital de SC


A Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso de Balneário Camboriú, no Litoral Norte catarinense, investiga uma suspeita de violência obstétrica que teria ocorrido no Hospital Municipal Ruth Cardoso. O caso está relacionado a uma jovem de 22 anos que perdeu o bebê durante a gestação, que completaria 24 semanas na sexta-feira (3).

A delegada Inara Marques confirmou que a Polícia Civil está investigando a suspeita. A jovem que perdeu o bebê, Fernanda Adamek, usou as redes sociais para relatar a versão dela.

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Conforme Fernanda, após a constatação da morte fetal e do processo para retirada do natimorto, sem saber que estava em trabalho de parto, ela foi ao banheiro e a criança caiu dentro do vaso sanitário.

Ao pedir instruções à enfermeira que estava no local, a jovem disse que a profissional orientou que o pai do bebê acionasse a descarga. A situação ocorreu na sexta. O hospital nega que a enfermeira tenha indicado tal procedimento (veja mais abaixo).

“A única coisa que eu penso agora é nunca mais ter filho. Porque se eu tivesse outro filho, eu dependeria de um hospital público de novo. Eu não quero passar por isso de novo”, afirma Fernanda.

Ela conta que, na hora, não acionou a polícia e nem realizou qualquer tipo de registro fotográfico. A jovem afirma que registrou um boletim de ocorrência posteriormente relatando a situação vivida e acionou um advogado.

“Eu quero que a justiça seja feita. Qual é a mãe e qual é o pai que vai lá na privada tirar uma foto? Qual é o pai em situação de desespero que vai gravar tudo o que está acontecendo? A gente já sabia que meu filho estava morto, estávamos abalados, a gente iria ficar com o telefone na mão?”, questiona Fernanda.

Por meio de nota, o Hospital Municipal Ruth Cardoso informou que a profissional “constatou que o vaso sanitário estava cheio de água e orientou para não darem descarga, chamou o médico e a equipe responsável para retirar o concepto do local”. A paciente, segundo o hospital, recebeu atendimento da equipe multidisciplinar, além da enfermagem, psicologia e serviço social. (Veja nota na íntegra abaixo).

“Como não houve manifestação dos familiares dentro das 24 horas no desejo de retirada do concepto, devidamente informados, foi dada a destinação conforme normas do Ministério da Saúde e Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] para esses casos especificamente”, informou a instituição sobre o destino do natimorto.


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Relato nas redes sociais

Fernanda informou que resolveu dizer o que havia acontecido nas redes sociais para que a situação não se repetisse com outras mulheres. No relato, ela explica o que aconteceu durante a sua internação na instituição.

“Fui no banheiro e meu filho caiu dentro do vaso sanitário. Entrei em desespero, meu marido também, não sabíamos o que fazer. Ele começou a gritar, chamar alguém. Ela voltou, me levantou e disse, nas exatas palavras ‘dá descarga, pai, dá descarga”. Meu marido, sem entender e em choque com tudo, eu chorando desesperada, ele fez o que ela mandou”, publicou a jovem nas redes sociais.

De acordo com a jovem, o vaso teve que ser quebrado para a retirada do natimorto. O marido e a paciente foram encaminhados para outro quarto.

“Quebraram o vaso, pois meu filho estava preso. Por pouco ele não vai para a fossa. Ele estava dentro da placenta, então era muito grande para passar. Enfim, acharam-no e tiraram. Vimos ele”, escreveu a jovem.

Internação

Segundo o hospital, a jovem deu entrada na unidade em 2 de setembro, por volta das 18h. A moradora de Bombinhas, também no Litoral Norte catarinense, havia sido encaminhada ao local após constatação de que o feto estava sem batimentos cardíacos. Ao chegar ao hospital em Balneário Camboriú, a mulher fez novos exames que comprovaram a morte do bebê.

Segundo Fernanda, o parto normal foi induzido com o uso de remédios.

“Por volta do meio-dia do outro dia, comecei a sentir uma dor muito, muito forte. Uma enfermeira veio e fez exame de toque e disse que não era nada, que não era o bebê saindo. Ela saiu do quarto, fui no banheiro e 2 minutos depois que ela saiu lá estava eu com meu filho dentro do vaso sanitário. Por culpa dela que falou que eu não estava em trabalho de parto, ainda fui ao banheiro e meu filho caiu dentro do vaso sanitário”, relembra a jovem.

Segundo a instituição hospitalar, houve a orientação para que a jovem ficasse em repouso.

“Na questão da descarga, A PACIENTE FOI ORIENTADA A FICAR EM REPOUSO, mas levantou sem chamar a enfermeira para ir ao banheiro, local onde ocorreu o aborto”, explica a unidade de saúde por meio de nota.

Segundo o relato da jovem, após o ocorrido, a enfermeira foi atrás de um médico e o comunicou sobre a situação.

Atestado de óbito

Ainda de acordo com a paciente, o hospital não entregou o atestado de óbito da criança. Questionado pelo G1 SC, o hospital informou que não houve manifestação de desejo por parte da família da emissão do documento. “Então por norma da Saúde e da Anvisa, não é feito, a não ser que seja pedido”, esclareceu o órgão.

Fernanda contesta a informação e afirma que questionou o corpo de funcionários quanto a instruções sobre o sepultamento e a certidão de óbito do bebê.

“A pior coisa que eu estou sentindo é que eu não sei onde o meu filho está. Não sei pra onde ele foi e com quantos quilos ele nasceu. Eu não tenho uma certidão de óbito. Na hora que eu estava no hospital, ninguém me disse o que fazer”, disse a jovem.

Íntegra da nota emitida pelo Hospital Municipal Ruth Cardoso

Nota de esclarecimento Hospital Municipal Ruth Cardoso – HMRC

Sobre o caso de aborto ocorrido no Hospital Ruth Cardoso no último dia 02 de setembro, esclarecemos que a paciente deu entrada no Hospital neste mesmo dia, às 18:00h, proveniente de uma Unidade de Pronto Atendimento do Município de Bombinhas, já com feto em óbito, conforme encaminhamento médico.

Em ato contínuo, no Centro Obstétrico do Hospital Ruth Cardoso, a paciente foi submetida a exames, inclusive por imagem, confirmando o óbito do feto.

A enfermeira, dentro dos procedimentos normais, orientou a paciente e prestou os cuidados médicos necessários ao caso.

Na questão da descarga, A PACIENTE FOI ORIENTADA A FICAR EM REPOUSO, mas levantou sem chamar a enfermeira para ir ao banheiro, local onde ocorreu o aborto. Ao ser chamada, a enfermeira constatou que o vaso sanitário estava cheio de água e orientou para NÃO DAREM DESCARGA, e chamou o médico e a equipe responsável para retirada do feto do local, pois a placenta obrigatoriamente tem que ser encaminhada para exame patológico.

Tanto médico como enfermeira e equipe, dentro das suas atribuições agiram com zelo e dedicação.

O Hospital Ruth Cardoso esclarece também que devido à vedação legal, não podem ser divulgados dados do prontuário médico para terceiros, a não ser para o próprio paciente. Mas afirma que a paciente recebeu todo o suporte da equipe multidisciplinar, além da enfermagem, psicologia e serviço social, bem como orientação dos procedimentos a serem adotados com relação ao feto e legislação em vigor.

Segundo a legislação brasileira, é considerado aborto a expulsão ou extração de um embrião ou feto com peso inferior a 500 g ou estatura menor que 25 cm ou idade da gestão inferior a 20 semanas.

Como não houve manifestação dos familiares dentro das 24 horas no desejo de retirada do concepto, devidamente informados, foi dada a destinação conforme normas do Ministério da Saúde e Anvisa para esses casos especificamente.

Finalizando, reiteramos que todos os procedimentos da equipe multidisciplinar, acompanhamento e suporte ao casal foram realizados.

A Direção do HMRC

Fonte: G1 SC



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