“Sou inocente, mas se for para tirar a dor desses pais, que me condenem”, diz réu do incêndio na boate Kiss

“Sou inocente, mas se for para tirar a dor desses pais, que me condenem”, diz réu do incêndio na boate Kiss


Um longo abraço na mãe e nas irmãs foi dado por Luciano Augusto Bonilha Leão, 43 anos, antes de começar a falar sobre o episódio mais traumático da sua vida. Ele é um dos quatro acusados pelo incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, que matou 242 pessoas. E o segundo réu a prestar depoimento no júri, que ingressa no nono dia, nesta quinta-feira (9).

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Luciano ressaltou que adora música e disse que ingressou profissionalmente na vida noturna quando conheceu Danilo, gaiteiro da banda Gurizada Fandangueira — que acabou morrendo no incêndio da Kiss. Foi convocado como produtor de palco, o sujeito que faz serviços eventuais (freelancer), cuidando de tudo um pouco do conjunto. Era office-boy, buscava mantimentos, levava água, carregava instrumentos, intermediava contatos. Nunca foi músico. Era o que se chama de “roadie”.

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Atuou em 14 shows da banda, calcula. E em nove deles foram usados artefatos pirotécnicos. Inclusive na Kiss, onde ele menciona pelo menos duas apresentações em que foram usados fogos de artifício pelo grupo. Salientou ainda que não conhecia os donos da boate. 

Questionado se sabia do rebaixamento do teto da casa noturna e se isso teria facilitado o começo do fogo, ele respondeu:

— Não sabia e acho que não teria facilitado, né. A gente achava tudo seguro. 

Luciano também contou ter comprado em uma loja de Santa Maria o artefato que o gaiteiro da banda usava. Numa sacola, fora da caixa. Ele assegura que jamais teve informação de que o produto não poderia ser usado indoor (dentro de ambiente fechado). Um deles foi instalado em cada lado do palco e outro, na mão do vocalista da banda. Era um sistema de acionamento por controle remoto, que Luciano acionou.

— Os músicos não iriam se queimar. Nunca alguém falou que era arriscado. Como é que as pessoas chegavam perto, até cantavam junto do músico que estava com o artefato? — questionou.

O réu inclusive ressaltou que, uma semana antes do incêndio da Kiss, esteve num show universitário em que artefatos luminosos foram montados em cima de caixas de som. Ao falar de como saiu da boate Kiss no dia da tragédia, Luciano voltou a chorar.

— Fui indo, fui indo e me prendi nos ferros. Não conseguia enxergar. Caí. Não conseguia respirar mais. Aí botei a camiseta no rosto e pedia a Deus: “Me tira daqui!”. Caíram pessoas em cima de mim. Me tiraram. Saí com as calças, a camiseta e sem os calçados. Fui arrastado. Até agora tenho a marca de uma unha, de quem me arrastou — descreveu, em lágrimas.

Disse que voltou até a porta e foi ajudar pessoas a saírem da Kiss. Por instinto, acredita. 

— Não estivessem todos se ajudando, tinha muito mais morto. Muito mais. 

Luciano falou que a boate estava cheia. Soube disso ao atravessar o local caminhando, de um jeito que não conseguia falar com os músicos, fora do microfone. O réu disse que não iria responder a questionamentos do Ministério Público, por terem dito que ele é responsável pelo incêndio. Falou não aceitar isso.

— Não tenho sentimento? O Ministério Público deveria defender o povo. Tiveram nove anos para me ouvir, não acreditaram em mim.

O réu também mandou uma mensagem aos familiares dos mortos na Kiss

— A luta deles é legítima. Minha mãe é a maior joia da minha vida. Se eu tivesse morrido, ela não teria a escolha de pensar se o filho é assassino ou inocente. Mas tenho a consciência de que não queria a tragédia, sou inocente. Mas se for para tirar a dor desses pais, que me condenem.

Questionado por seu advogado, Jean Menezes, sobre quais bens possui, Luciano falou:

— Tenho um Fusquinha 74. Ganho em torno de R$ 1,6 mil por mês.

Luciano também falou de traumas após a tragédia. E mostrou um saco cheio de caixas de medicamentos contínuos, que toma, em decorrência de problemas psicológicos pós-incêndio.

— São tudo amostra grátis, que ganhei do psiquiatra. Mas acham que não posso ter sequelas. Que sou assassino — reclamou, em nova crise de choro.

Luciano também declarou que as famílias entraram em contato com ele. Algumas, assegurou, quiseram conhecê-lo. Que se abraçou num pai que perdeu as duas filhas na boate. O réu também reclamou que seu casamento terminou após o incêndio.

— Eu dormia na sala, por angústia. Não conseguia mais ter vida de casal. Um dia saí, peguei minhas roupas e fui embora. Eu só não perdi o tesouro que é minha mãe.

O interrogatório terminou às 10h10min, depois que Luciano disse que não iria mais responder perguntas, nem da defesa, nem da acusação.

Fonte: Gauchazh / Clic RBS



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